A escrita melhora a aprendizagem, consolidando a informação
na memória de longo prazo, explicam os investigadores. Além disso, eis
cinco atividades de escrita interessantes para desenvolver em todas as
disciplinas.
Para Kyle Pahigian, professora de matemática
do 10.º ano numa escola em Massachusetts, uma aula sobre triângulos
congruentes não começa com calculadoras e transferidores. Em vez disso, a
professora distribui um mapa do tesouro aos alunos e pede-lhes para
escreverem direções detalhadas para chegarem ao tesouro enterrado,
usando pontos de referência como um guia.
«Não digo diretamente
aos alunos “Hoje vamos estudar teoremas sobre triângulos congruentes”»,
disse Pahigian. «Em vez disso, pretendo que eles sintam que estão a
experimentar e a fazer alguma coisa que sabem fazer bem.» Muitas vezes,
os alunos sentem-se intimidados com a matemática, pelo que transformar a
atividade num exercício de escrita alivia a tensão associada à
introdução de conceitos difíceis, disse ela.
Na aula de matemática
da professora Pahigian, a escrita regular é utilizada como uma
estratégia de aprendizagem que lhe permite perceber como os seus alunos
pensam. «Gosto de fazer pequenos exercícios de escrita quando estamos a
lidar com definições», disse Pahigian. Em vez de dizer aos alunos o que é
um polígono, por exemplo, opta por lhes mostrar um conjunto de
políginos e um de não polígonos, perguntando-lhes «O que notam? Que
diferenças veem?» Os alunos passam alguns minutos a anotar as suas
respostas e depois juntam-se em grupos para compararem soluções.
«É
muito interessante e divertido ver o que eles escreveram, porque
consigo perceber as dúvidas. Consigo perceber o processo», disse
Pahigian.
Um estudo recente
esclarece porque é que a escrita é uma atividade com tantos benefícios,
não apenas em disciplinas que habitualmente associamos à escrita, como a
língua materna ou história, mas em todas as áreas. O professor
catedrático Steve Graham e os seus colegas, do Arizona State University's Teachers College,
analisaram 56 estudos procurando perceber os benefícios da escrita em
ciências, estudos sociais e matemática, e descobriram que a escrita
«melhorava seriamente a aprendizagem» em todos os níveis de ensino. Além
de os exercícios escritos servirem para o professor avaliar se os
alunos compreenderam ou não as matérias, o processo da escrita também
melhora a capacidade de os alunos recordarem informação, fazerem
conexões entre diferentes conceitos e sintetizarem informação de outras
formas. De facto, a escrita não é apenas uma ferramenta para avaliar a
aprendizagem, ela também a promove.
CONSOLIDAÇÃO DAS APRENDIZAGENS
Porque
é que a escrita é eficaz? «Escrever sobre os conteúdos melhora a
aprendizagem, consolidando a informação na memória de longo prazo»,
explicam Graham e os seus colegas, descrevendo um processo conhecido
como o efeito de recuperação. Como a investigação anterior demonstrou, a
informação esquece-se rapidamente se não for reforçada, e a escrita
ajuda aos alunos a reterem na memória o que aprenderam.
É o mesmo
mecanismo cognitivo que explica porque é que praticar através de testes é
eficaz. Num estudo de 2014, os alunos que realizaram testes práticos
nas aulas de ciências e de história obtiveram mais 16 pontos percentuais
nos exames finais do que aqueles que apenas estudaram. «Praticar a
recuperação da informação estudada recentemente aumenta a probabilidade
de o aluno recuperar essa informação no futuro», disseram os
investigadores do estudo de 2014.
Escrever sobre um tópico também
ajuda os alunos a processar a informação a um nível mais profundo.
Responder a perguntas de escolha múltipla ou de resposta curta pode
ajudar a recuperar informação factual, mas registar os pensamentos no
papel ajuda os alunos a avaliar ideias diferentes, levando-os a ponderar
a importância de cada uma e a considerar a ordem em que devem ser
apresentadas, escrevem Graham e os seus colegas. Ao fazê-lo, os alunos
podem estabelecer novas conexões entre ideias, conexões que podem não
ter estabelecido quando apreenderam a informação inicialmente.
UMA FERRAMENTA METACOGNITIVA
Os
alunos acreditam, frequentemente, que compreenderam um assunto, mas se
lhes for pedido para escreverem sobre ele e para o explicarem, podem ser
reveladas lacunas na compreensão. Uma das estratégias de escrita mais
eficazes que Graham e os seus colegas descobriram foi o recurso à
metacognição, em que é pedido aos alunos não apenas para recuperarem
informação, mas também para aplicarem o que aprenderam em contextos
diferentes, refletindo sobre os múltiplos ângulos de uma opinião ou
fazendo previsões baseadas no que sabem. Por exemplo, em vez de apenas
lerem sobre os ecossistemas nos manuais escolares, os alunos podem
escrever sobre o impacto que eles próprios causam, analisando a
quantidade de lixo que o seu agregado familiar produz ou o impacto
ambiental da produção dos alimentos que consomem.
5 ESTRATÉGIAS DE ESCRITA PARA UTILIZAR EM QUALQUER DISCIPLINA
Eis
uma variedade de ideias que os professores partilharam com a Edutopia
nos últimos anos sobre o modo de incorporar a escrita numa grande
variedade de disciplinas.
Diários «Pergunto-me»:
Na escola primária de Crellin, em Oakland, Maryland, os professores
encorajavam os alunos a fazerem perguntas, através da atividade
«Pergunto-me», promovendo a aprendizagem para além da sala de aula.
Depois da visita a um celeiro e um jardim locais, por exemplo, Dave
Miller apercebeu-se de que as perguntas dos seus alunos do 5.º ano sobre
animais e plantas ultrapassavam em muito o tempo que ele tinha para
lhes responder; por isso, pediu-lhes para escreverem sobre o que não
tinha ficado claro para eles ou sobre curiosidades, o que o ajudou a
planificar futuras aulas e experiências.
«Se eles não se perguntam
“Como poderíamos sobreviver na Lua?” esse assunto nunca será
explorado», disse Dana McCauley, a diretora de Crellin. «Mas isso não
significa que devam parar de fazer perguntas, porque a interrogação leva
ao pensamento fora da caixa, desenvolvendo o espírito crítico. É ao
tentarem perceber e ao refletirem sobre o que estão a fazer, que tudo se
associa. É aqui que toda a aprendizagem acontece, onde todas as
conexões começam a ser feitas.»
Diários de viagem: Todos os alunos na Normal Park Museum Magnet,
uma escola básica com 3.º ciclo, em Chattanooga, Tennessee, criaram um
diário de viagem para registar as suas aprendizagens. Estes diários
incluíam não apenas gráficos, desenhos e organizadores gráficos, mas
também enunciados escritos que refletem a aprendizagem dos alunos
relativamente a um assunto.
Quando o professor do 5.º ano Denver
Huffstutler iniciou uma unidade sobre ciências da terra, pediu aos
alunos para se imaginarem exploradores à procura de um novo mundo com
vida sustentável. Nos seus diários de viagem, os alunos mantiveram
registo de tudo o que estavam a aprender, desde o impacto de catástrofes
provocadas pelo Homem até aos seus desenhos e cálculos para um foguetão
tripulado capaz de atingir planetas distantes.
Atividades informais de escrita:
A
escrita pode assustar, por isso os professores da Escola University
Park Campus recorreram a atividades informais de escrita, diariamente,
para dar voz aos alunos, promover a sua autoestima e competências de
pensamento crítico. Uma estratégia utilizada em toda a escola, em todas
as disciplinas.
«O mais importante para mim é que não existe
censura e as atividades não são demasiado estruturadas», disse o
professor de ciências do 7.º ano, James Kobialka. «Trata-se de eles
registarem as suas próprias ideias, e depois serem capazes de interagir
com essas ideias, alterá-las e revê-las se não estiverem corretas.»
Por
exemplo, quando os alunos de Kobialka estavam a aprender sobre a
conservação da massa, não começou por definir o conceito, mostrou-lhes
uma imagem e perguntou-lhes «O que notam sobre os átomos de ambos os
lados? Como podem explicar isso?». Os alunos anotaram as suas
observações, e a turma chegou a uma definição. «A partir daí», disse o
professor, «depois de se chegar a um consenso, peço a alguém para
escrever no quadro e iremos falar dos conceitos-chave.»
Revistas criadas por alunos:
Na
aula de álgebra de Alessandra King, os alunos criaram uma revista com
dezenas de artigos sobre a aplicação da matemática ao mundo real. Para
cada artigo, os alunos selecionaram uma fonte primária ̶ um artigo da
revista Scientific American, por exemplo ̶ leram-no com atenção e
escreveram um resumo. Os alunos escreveram sobre uma grande variedade de
assuntos, desde o método Gerrymandering a fractais nos quadros de
Jackson Pollock, até às capas de invisibilidade.
«Uma escrita
eficaz aclara e organiza os pensamentos, e o ritmo lento da escrita é
propício à aprendizagem, porque permite que os alunos raciocinem com
atenção para se certificarem de que estão certos antes de proferirem os
seus pensamentos», escreveu King. «Os estudos demonstraram que a escrita
é essencial especificamente para as aulas de matemática; por exemplo,
parece que a capacidade de um aluno explicar os conceitos por escrito
está relacionada com a capacidade de os compreender e aplicar.»
Escrita criativa:
Os
ex-professores Ed Kang e Amy Schwartzbach-Kang incorporaram a narração e
a escrita criativa nas aulas de ciências que integram os programas OTL
(Ocupação de Tempos Livres). Por exemplo, pediram aos alunos para
imaginarem uma criatura que pudesse viver num habitat local, o rio
Chicago, no caso. De que cor seria? Que características o ajudariam a
sobreviver e a defender-se? Como caçaria as suas presas? Os alunos
escreveram uma história sobre a criatura que imaginaram, combinando
conceitos de ciências com a narrativa criativa.
«Há dados
científicos que sustentam que se devem usar histórias para ajudar as
crianças a envolverem-se com o conteúdo e a criarem significado
pessoal», explicou Kang, que tem um doutoramento em neurociências.
«Ouvir factos estimula principalmente as duas áreas do cérebro de
processamento da linguagem. Contudo, ao ouvirmos uma história, partes
adicionais do cérebro são ativadas; zonas que envolvem os nossos
sentidos e movimentos motores ajudam os ouvintes a “sentir” as
descrições.»
O artigo «Porque é que os alunos devem escrever em todas as disciplinas» foi originalmente publicado no sítio Edutopia. Texto traduzido livremente a partir do inglês.
Referência
Terada, Youki (2021). Why Students Should Write in All Subjects. https://www.edutopia.org/article/why-students-should-write-all-subjects