sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Porque é que os alunos devem escrever em todas as disciplinas?


A escrita melhora a aprendizagem, consolidando a informação na memória de longo prazo, explicam os investigadores. Além disso, eis cinco atividades de escrita interessantes para desenvolver em todas as disciplinas.

Para Kyle Pahigian, professora de matemática do 10.º ano numa escola em Massachusetts, uma aula sobre triângulos congruentes não começa com calculadoras e transferidores. Em vez disso, a professora distribui um mapa do tesouro aos alunos e pede-lhes para escreverem direções detalhadas para chegarem ao tesouro enterrado, usando pontos de referência como um guia.

«Não digo diretamente aos alunos “Hoje vamos estudar teoremas sobre triângulos congruentes”», disse Pahigian. «Em vez disso, pretendo que eles sintam que estão a experimentar e a fazer alguma coisa que sabem fazer bem.» Muitas vezes, os alunos sentem-se intimidados com a matemática, pelo que transformar a atividade num exercício de escrita alivia a tensão associada à introdução de conceitos difíceis, disse ela.

Na aula de matemática da professora Pahigian, a escrita regular é utilizada como uma estratégia de aprendizagem que lhe permite perceber como os seus alunos pensam. «Gosto de fazer pequenos exercícios de escrita quando estamos a lidar com definições», disse Pahigian. Em vez de dizer aos alunos o que é um polígono, por exemplo, opta por lhes mostrar um conjunto de políginos e um de não polígonos, perguntando-lhes «O que notam? Que diferenças veem?» Os alunos passam alguns minutos a anotar as suas respostas e depois juntam-se em grupos para compararem soluções.

«É muito interessante e divertido ver o que eles escreveram, porque consigo perceber as dúvidas. Consigo perceber o processo», disse Pahigian.

Um estudo recente esclarece porque é que a escrita é uma atividade com tantos benefícios, não apenas em disciplinas que habitualmente associamos à escrita, como a língua materna ou história, mas em todas as áreas. O professor catedrático Steve Graham e os seus colegas, do Arizona State University's Teachers College, analisaram 56 estudos procurando perceber os benefícios da escrita em ciências, estudos sociais e matemática, e descobriram que a escrita «melhorava seriamente a aprendizagem» em todos os níveis de ensino. Além de os exercícios escritos servirem para o professor avaliar se os alunos compreenderam ou não as matérias, o processo da escrita também melhora a capacidade de os alunos recordarem informação, fazerem conexões entre diferentes conceitos e sintetizarem informação de outras formas. De facto, a escrita não é apenas uma ferramenta para avaliar a aprendizagem, ela também a promove.

 

CONSOLIDAÇÃO DAS APRENDIZAGENS

Porque é que a escrita é eficaz? «Escrever sobre os conteúdos melhora a aprendizagem, consolidando a informação na memória de longo prazo», explicam Graham e os seus colegas, descrevendo um processo conhecido como o efeito de recuperação. Como a investigação anterior demonstrou, a informação esquece-se rapidamente se não for reforçada, e a escrita ajuda aos alunos a reterem na memória o que aprenderam.

É o mesmo mecanismo cognitivo que explica porque é que praticar através de testes é eficaz. Num estudo de 2014, os alunos que realizaram testes práticos nas aulas de ciências e de história obtiveram mais 16 pontos percentuais nos exames finais do que aqueles que apenas estudaram. «Praticar a recuperação da informação estudada recentemente aumenta a probabilidade de o aluno recuperar essa informação no futuro», disseram os investigadores do estudo de 2014.

Escrever sobre um tópico também ajuda os alunos a processar a informação a um nível mais profundo. Responder a perguntas de escolha múltipla ou de resposta curta pode ajudar a recuperar informação factual, mas registar os pensamentos no papel ajuda os alunos a avaliar ideias diferentes, levando-os a ponderar a importância de cada uma e a considerar a ordem em que devem ser apresentadas, escrevem Graham e os seus colegas. Ao fazê-lo, os alunos podem estabelecer novas conexões entre ideias, conexões que podem não ter estabelecido quando apreenderam a informação inicialmente.

 

UMA FERRAMENTA METACOGNITIVA

Os alunos acreditam, frequentemente, que compreenderam um assunto, mas se lhes for pedido para escreverem sobre ele e para o explicarem, podem ser reveladas lacunas na compreensão. Uma das estratégias de escrita mais eficazes que Graham e os seus colegas descobriram foi o recurso à metacognição, em que é pedido aos alunos não apenas para recuperarem informação, mas também para aplicarem o que aprenderam em contextos diferentes, refletindo sobre os múltiplos ângulos de uma opinião ou fazendo previsões baseadas no que sabem. Por exemplo, em vez de apenas lerem sobre os ecossistemas nos manuais escolares, os alunos podem escrever sobre o impacto que eles próprios causam, analisando a quantidade de lixo que o seu agregado familiar produz ou o impacto ambiental da produção dos alimentos que consomem.

 

5 ESTRATÉGIAS DE ESCRITA PARA UTILIZAR EM QUALQUER DISCIPLINA

Eis uma variedade de ideias que os professores partilharam com a Edutopia nos últimos anos sobre o modo de incorporar a escrita numa grande variedade de disciplinas.

Diários «Pergunto-me»: Na escola primária de Crellin, em Oakland, Maryland, os professores encorajavam os alunos a fazerem perguntas, através da atividade «Pergunto-me», promovendo a aprendizagem para além da sala de aula. Depois da visita a um celeiro e um jardim locais, por exemplo, Dave Miller apercebeu-se de que as perguntas dos seus alunos do 5.º ano sobre animais e plantas ultrapassavam em muito o tempo que ele tinha para lhes responder; por isso, pediu-lhes para escreverem sobre o que não tinha ficado claro para eles ou sobre curiosidades, o que o ajudou a planificar futuras aulas e experiências.

«Se eles não se perguntam “Como poderíamos sobreviver na Lua?” esse assunto nunca será explorado», disse Dana McCauley, a diretora de Crellin. «Mas isso não significa que devam parar de fazer perguntas, porque a interrogação leva ao pensamento fora da caixa, desenvolvendo o espírito crítico. É ao tentarem perceber e ao refletirem sobre o que estão a fazer, que tudo se associa.  É aqui que toda a aprendizagem acontece, onde todas as conexões começam a ser feitas.»

Diários de viagem: Todos os alunos na Normal Park Museum Magnet, uma escola básica com 3.º ciclo, em Chattanooga, Tennessee, criaram um diário de viagem para registar as suas aprendizagens. Estes diários incluíam não apenas gráficos, desenhos e organizadores gráficos, mas também enunciados escritos que refletem a aprendizagem dos alunos relativamente a um assunto.

Quando o professor do 5.º ano Denver Huffstutler iniciou uma unidade sobre ciências da terra, pediu aos alunos para se imaginarem exploradores à procura de um novo mundo com vida sustentável. Nos seus diários de viagem, os alunos mantiveram registo de tudo o que estavam a aprender, desde o impacto de catástrofes provocadas pelo Homem até aos seus desenhos e cálculos para um foguetão tripulado capaz de atingir planetas distantes.

Atividades informais de escrita:

A escrita pode assustar, por isso os professores da Escola University Park Campus recorreram a atividades informais de escrita, diariamente, para dar voz aos alunos, promover a sua autoestima e competências de pensamento crítico. Uma estratégia utilizada em toda a escola, em todas as disciplinas.

«O mais importante para mim é que não existe censura e as atividades não são demasiado estruturadas», disse o professor de ciências do 7.º ano, James Kobialka. «Trata-se de eles registarem as suas próprias ideias, e depois serem capazes de interagir com essas ideias, alterá-las e revê-las se não estiverem corretas.»

Por exemplo, quando os alunos de Kobialka estavam a aprender sobre a conservação da massa, não começou por definir o conceito, mostrou-lhes uma imagem e perguntou-lhes «O que notam sobre os átomos de ambos os lados? Como podem explicar isso?». Os alunos anotaram as suas observações, e a turma chegou a uma definição. «A partir daí», disse o professor, «depois de se chegar a um consenso, peço a alguém para escrever no quadro e iremos falar dos conceitos-chave.»

Revistas criadas por alunos:

Na aula de álgebra de Alessandra King, os alunos criaram uma revista com dezenas de artigos sobre a aplicação da matemática ao mundo real. Para cada artigo, os alunos selecionaram uma fonte primária  ̶  um artigo da revista Scientific American, por exemplo  ̶  leram-no com atenção e escreveram um resumo. Os alunos escreveram sobre uma grande variedade de assuntos, desde o método Gerrymandering a fractais nos quadros de Jackson Pollock, até às capas de invisibilidade.

«Uma escrita eficaz aclara e organiza os pensamentos, e o ritmo lento da escrita é propício à aprendizagem, porque permite que os alunos raciocinem com atenção para se certificarem de que estão certos antes de proferirem os seus pensamentos», escreveu King. «Os estudos demonstraram que a escrita é essencial especificamente para as aulas de matemática; por exemplo, parece que a capacidade de um aluno explicar os conceitos por escrito está relacionada com a capacidade de os compreender e aplicar.»

Escrita criativa:

Os ex-professores Ed Kang e Amy Schwartzbach-Kang incorporaram a narração e a escrita criativa nas aulas de ciências que integram os programas OTL (Ocupação de Tempos Livres). Por exemplo, pediram aos alunos para imaginarem uma criatura que pudesse viver num habitat local, o rio Chicago, no caso. De que cor seria? Que características o ajudariam a sobreviver e a defender-se? Como caçaria as suas presas? Os alunos escreveram uma história sobre a criatura que imaginaram, combinando conceitos de ciências com a narrativa criativa.

«Há dados científicos que sustentam que se devem usar histórias para ajudar as crianças a envolverem-se com o conteúdo e a criarem significado pessoal», explicou Kang, que tem um doutoramento em neurociências. «Ouvir factos estimula principalmente as duas áreas do cérebro de processamento da linguagem. Contudo, ao ouvirmos uma história, partes adicionais do cérebro são ativadas; zonas que envolvem os nossos sentidos e movimentos motores ajudam os ouvintes a “sentir” as descrições.»

 

O artigo «Porque é que os alunos devem escrever em todas as disciplinas» foi originalmente publicado no sítio Edutopia. Texto traduzido livremente a partir do inglês.

 

Referência

Terada, Youki (2021). Why Students Should Write in All Subjects. https://www.edutopia.org/article/why-students-should-write-all-subjects

Mês Internacional da Biblioteca Escolar

     Outubro é o Mês Internacional da Biblioteca Escolar (MIBE), uma celebração anual da existência e do papel das bibliotecas escolares. Em Portugal, o Dia da BE assinala-se a 25 de outubro. Neste ano, o tema da MIBE é "Contos de fadas e contos tradicionais de todo o mundo".

 

Atividades

Eu conto, tu contas, ele conta...

    A Equipa da Biblioteca, para comemorar esta data, convidou toda a comunidade educativa a ler, uma vez que esta é uma competência transversal que conduz a novas aprendizagens e ao crescimento pessoal dos nossos alunos. Deste modo, cada uma das aulas do dia 28 de outubro foi iniciada com a leitura de um conto selecionado pela BE.
 
    
Exposição do fundo documental



Formação do utilizador

    Procurando dar resposta às necessidades dos seus leitores e utilizadores e numa perspetiva de contínua melhoria dos serviços prestados pela biblioteca, a professora bibliotecária promoveu, no início do mês de outubro, sessões de (in)formação para os seus utilizadores do 3.º, 5.º e 7.º anos com vista a uma rentabilização e correta utilização dos espaços e serviços. 


Contacto com escritores

    Aos alunos do 1.º ciclo foi proporcionado contacto com os escritores Pedro Seromenho e Estefânia Surreira, uma atividade colaborativa entre a BE e a Câmara Municipal.