terça-feira, 22 de abril de 2025

Excerto de A Cidade e os Cães, de Mario Vargas Llosa

Fotografia
    Excerto da obra A Cidade e os Cães, da autoria de Mario Vargas Llosa.

    Publicado em 1963, o livro narra o quotidiano dos alunos do colégio militar Leoncio Prado, em Lima, no Peru.

    Lê o trecho envolvente que transcrevemos de seguida.


    O Escravo estava só e descia a escadaria do rancho para o descampado quando duas tenazes seguraram os seus braços e uma voz murmurou junto ao seu ouvido: “Vem connosco, cão.” Ele sorriu e seguiu-os docilmente. Ao redor, muitos dos companheiros que tinha conhecido pela manhã eram abordados e arrastados pela relva rumo aos alojamentos do quarto ano. Nesse dia não houve aula. Os cães ficaram nas mãos dos cadetes do quarto ano do almoço até o jantar, umas oito horas. O Escravo não lembra a que seção foi levado, nem por quem. Mas o alojamento estava cheio de fumaça e uniformes, ouviam-se risadas e gritos. Mal cruzou a soleira, ainda com o sorriso nos lábios, sentiu um golpe nas costas. Caiu ao chão, girou sobre si mesmo, ficou estendido ali, de boca para cima. Tratou de se levantar, mas não conseguiu: um pé instalara-se sobre o seu estômago. Dez rostos indiferentes contemplavam-no como um inseto; não deixavam que visse o teto. Uma voz disse:

    — Para começar, cante cem vezes “eu sou um cão” em ritmo de corrido mexicano.

    Não conseguiu; estava atónito, os olhos fora das órbitas. A garganta ardia. O pé pressionou ligeiramente o estômago.

    — Não quer — disse a voz. — O cão não quer cantar.

    E então os rostos abriram as bocas e cuspiram nele, não uma, mas muitas vezes, até que teve de fechar os olhos. Quando terminou a saraivada, a mesma voz anónima, que girava como um torno, repetiu:

    — Canta cem vezes “eu sou um cão” em ritmo decorrido mexicano.

    Desta vez, obedeceu, e a sua garganta entoou roucamente a frase sobre a melodia de Allá en el rancho grande; era difícil: despojada da letra original, a música por vezes transformava-se em guinchos. Mas isso não parecia incomodá-los; escutavam atentamente.

    — Basta — disse a voz. — Agora em ritmo de bolero.

    Depois cantou com melodias de mambo e de valsa criolla. Por fim, ordenaram:

    — Em pé.

    Levantou-se e passou a mão no rosto. Limpou-a no fundilho. A voz perguntou:

    — Alguém mandou limpar o focinho? Não, ninguém mandou.

    As bocas voltaram a abrir-se e ele fechou os olhos automaticamente, até que aquilo terminou. A voz disse:

    — Esses dois ao teu lado são dois cadetes, cão. Sentido! Assim, muito bem. Esses dois cadetes fizeram uma aposta e tu vais ser o juiz.

    O da direita bateu primeiro e o Escravo sentiu queimar o antebraço. O da esquerda bateu quase ao mesmo tempo.

    — Muito bem — disse a voz. — Qual bateu mais forte?

    — O da esquerda.

    — Ah, é? — replicou outra voz. — Quer dizer que eu sou um fracote? Vamos ver, vamos repetir, repara bem.

    O Escravo cambaleou com o impacto, mas não chegou a cair: as mãos dos cadetes que o rodeavam seguraram-no e devolveram-no ao seu lugar.

    — E agora, o que achaste? Quem bate mais forte?

    — Os dois batem igual.

    — Quer dizer que ficaram na mesma — precisou a voz.

    — Vão ter que desempatar.

    Um momento depois, a voz incansável perguntou:

    — A propósito, cão. Os braços estão a doer?

    — Não — disse o Escravo.

    Era verdade; perdera a noção do corpo e do tempo. O seu espírito contemplava embriagado o mar sem ondas de Puerto Eten e escutava a mãe, que lhe dizia: “Cuidado com as arraias, Ricardito”, e estendia para ele os seus longos braços protetores sob o sol implacável.

    — Mentira — disse a voz. — Se não doem, estás a chorar por quê, cão?

    Ele pensou: “Já acabaram.” Mas eles mal tinham começado.

    — Tu és um cão ou um ser humano?

    — Um cão, meu cadete.

    — Então o que estás a fazer em pé? Os cães andam sobre as quatro patas.

    Ele inclinou-se; ao firmar as mãos no chão, surgiu a ardência nos braços, muito intensa. Os seus olhos descobriram junto a ele outro menino, também de quatro.

    — Muito bem — disse a voz. — E o que fazem os cães quando se encontram na rua? Responde, cadete, estou a falar contigo.

    O Escravo levou um pontapé no traseiro e respondeu de imediato:

    — Não sei, meu cadete.

    — Eles lutam — disse a voz. — Latem e enroscam-se. E mordem-se.

    O Escravo não se lembra da cara do menino que foi batizado juntamente com ele. Devia ser de uma das últimas seções, porque era baixinho. Estava com o rosto desfigurado pelo medo e, assim que a voz se calou, avançou contra ele, latindo e babando; o Escravo sentiu no ombro uma mordida de cão enraivecido; todo o seu corpo reagiu, e enquanto latia e mordia, tinha a certeza de que a sua pele se cobrira de um pelo duro, que a sua boca era um focinho pontiagudo e que, sobre o dorso, o seu rabo estalava como um chicote.

    — Basta — disse a voz. — Ganhaste. Mas o pequenote trapaceou. Não é cão, é cadela. E sabem o que acontece quando um cão e uma cadela se encontram na rua?

    — Não, meu cadete.

    — Eles lambem-se. Primeiro cheiram-se com carinho, depois lambem-se.

    E então tiraram-no do alojamento e levaram-no para o estádio, e não conseguia lembrar-se se ainda era dia ou se já caíra a noite. Ali o despiram, e a voz mandou que nadassem de costas pela pista de atletismo ao redor do campo de futebol. Depois, trouxeram-no de volta para um alojamento de quarto ano, e fez muitas camas e cantou e dançou em cima de um armário, imitou artistas de cinema, lustrou vários pares de coturnos, varreu uma lajota com a língua, fornicou com uma almofada, bebeu urina, mas tudo isso era uma vertigem febril e logo ele estava na sua secção, deitado na cama, pensando: “Juro que vou fugir. Amanhã mesmo.” O alojamento estava silencioso. Os meninos olhavam-se uns aos outros e, apesar de terem sido sovados, cuspidos, pintados e mijados, mostravam-se graves e cerimoniosos. Nessa mesma noite, depois do toque de recolher, nasceu o Círculo.

    Estavam deitados, mas ninguém dormia. O corneteiro acabara de sair do pátio. Imediatamente, uma silhueta destacou-se de uma das camas, cruzou o alojamento e entrou na casa de banho: os batentes ficaram a oscilar. Pouco depois ressoavam os estertores e o vómito ruidoso, espetacular. Quase todos pularam das camas e correram para a casa de banho, descalços: alto e esquálido, Vallano estava no meio do recinto amarelento, passando a mão sobre o estômago. Não se aproximaram, ficaram a examinar o negro de rosto congestionado enquanto vomitava. Por fim, Vallano aproximou-se da pia e enxaguou a boca. Então começaram a falar com uma agitação extraordinária e desordenada, maldizendo os cadetes de quarto ano com os piores palavrões.

    — Não pode ficar assim. Temos que fazer alguma coisa — disse Arróspide. O rosto branco destacava-se entre os meninos de rostos angulosos, cor de cobre. Estava furioso e vibrava o punho fechado no ar.

    — Vamos chamar esse tal de Jaguar — propôs Cava.

    Era a primeira vez que ouviam o nome. “Quem?”, perguntaram alguns; “é da secção?”

    — É, sim — disse Cava. — Ficou na cama. É a primeira, perto da casa de banho.

    — E porquê esse Jaguar? — disse Arróspide. — Nós não damos conta?

    — Não — disse Cava. — Não é isso. Ele é diferente.

    Não conseguiram batizar. Eu vi. Nem tiveram tempo. Foi para o estádio comigo, ali atrás dos alojamentos. E ele ria na cara deles e dizia: “Quer dizer que me vão batizar? Vamos ver, vamos ver.” Ria na cara deles, e eram uns dez.

    — E aí? — disse Arróspide.

    — Eles olhavam meio espantados — disse Cava.

    — E olha que eram uns dez. Mas só até nós chegarmos ao estádio, aí vieram mais, uns vinte, até mais, um montão de cadetes do quarto ano. E ele ria na cara deles: “Quer dizer que vão me batizar? Muito bem, muito bem.”

    — E aí? — disse Alberto.

    — Eles perguntavam: “Então tu achas que és valente, hein, cão?” E então, olha só, ele partiu para cima deles. E rindo. Sei lá quantos eram, dez ou vinte ou mais ainda. E não o conseguiam segurar. Alguns tiraram os cintos e chicoteavam de longe, mas não chegavam perto, juro. Estavam todos com medo, juro pela Santa Virgem, e vi não sei quantos caindo no chão, segurando os bagos ou com a cara amassada, imagina. E ele ria e gritava: “Quer dizer que me vão batizar? Muito bem, muito bem.”

    — E por quê isso de Jaguar?

    — Não fui eu que inventei — disse Cava. — É ele que se chama assim. Ele estava cercado, tinham-se esquecido de mim. Ameaçavam com os cintos e ele começou a insultar todos, a mãe, toda a gente. E então um deles disse: “Vamos chamar o Gambarina para cuidar desse animal.” E foram atrás de um cadete grandalhão, com cara de bruto, disseram que ele puxa ferro.

    — E trouxeram-no para quê? — perguntou Alberto.

    — E por que o chamam de Jaguar? — insistiu Arróspide.

    — Para lutar com ele — disse Cava. — Disseram-lhe: “Escuta, cão, já que és tão valente, bate num do teu tamanho.” E ele respondeu: “Eu chamo-me Jaguar. Cuidado com isso de me chamar cão.”

    — Eles riram?

    — Não — disse Cava. — Formaram uma roda. E ele sempre a rir. Até no meio da luta, imagina.

    — E depois? — perguntou Arróspide.

    — Não luta muito — disse Cava. — Foi aí que eu vi por que o chamam Jaguar. É muito ágil, uma barbaridade de ágil. Nem é muito forte, mas parece gelatina, o Gambarina esbugalhava os olhos de puro desespero, não o conseguia agarrar. E o outro batia com a cabeça e os pés, dava que dava, e nada de ele apanhar porrada. Até que o Gambarina disse: “Basta de brincadeira, cansei-me”, mas toda a gente viu que estava acabado.

    — E aí? — disse Alberto.

    — Foi só isso — disse Cava. — Largaram-no e começaram a batizar-me.

    — Vamos chamá-lo — disse Arróspide.

    Estavam de cócoras e formavam um círculo. Alguns tinham acendido um cigarro, que passavam de mão em mão. O recinto começou a encher-se de fumo. Quando o Jaguar entrou na casa de banho, precedido por Cava, todos compreenderam que este tinha mentido: o rosto e o queixo tinham sido golpeados, o nariz largo de buldogue também. Plantou-se no meio do círculo e fitava-os por trás das suas pestanas ruivas, com uns olhos estranhamente azuis e violentos. O trejeito da boca era forçado, assim como a postura insolente e a lentidão calculada com que os observava, um a um. Também era forçada a risada cáustica e súbita que trovejou no recinto. Mas ninguém o interrompeu. Esperaram, imóveis, que terminasse de examiná-los e de rir.

    — Dizem que o batizado dura um mês — afirmou Cava.

    — Não podemos aceitar que aconteça todos os dias o que aconteceu hoje.

    O Jaguar concordou.

    — É verdade — disse. — Temos que nos defender. Vamo-nos vingar do quarto ano, vão pagar caro pelas gracinhas. O principal é lembrar as caras e, se der, a secção e os nomes. Temos que andar sempre em grupos. Vamo-nos reunir à noite, depois do toque de recolher. E precisamos de um nome para o grupo.

    — Os Falcões? — insinuou alguém, timidamente.

    — Não — disse o Jaguar. — Parece brincadeira. Vamos chamar Círculo.

    As aulas começaram na manhã seguinte. Nos intervalos, os do quarto ano precipitavam-se sobre os cães e organizavam corridas de pato: a um comando, dez ou quinze rapazes, formados em linha reta, as mãos nos quadris e as pernas flexionadas, avançavam grasnando e imitando os movimentos de um palmípede. Os derrotados levavam ângulos retos. Além de revistar e confiscar o dinheiro e os cigarros dos cães, os do quarto ano preparavam aperitivos de graxa de fuzil, azeite e sabão, e as vítimas tinham que bebê-los de um só gole, segurando o copo com os dentes. O Círculo começou a funcionar dois dias após, pouco depois do pequeno-almoço. Os três anos saíam do rancho num tumulto e espalhavam-se como uma mancha sobre o descampado. De repente, uma nuvem de pedras passou sobre as cabeças descobertas e um cadete do quarto ano caiu no chão aos berros. Já em formação, viram que o ferido era levado para a enfermaria no ombro dos companheiros. Na noite seguinte, uma sentinela do quarto ano que dormia no relvado foi assaltada por sombras mascaradas: ao amanhecer, o corneteiro encontrou-o nu, amarrado e com grandes equimoses no corpo transido de frio. Outros mais foram apedrejados, sovados; o golpe mais audacioso, uma incursão na cozinha para derramar sacos de excrementos nas panelas de sopa do quarto ano, mandou muita gente com cólicas para a enfermaria. Exasperados pelas represálias anónimas, os do quarto ano prosseguiam o batizado com mais sanha. O Círculo reunia-se todas as noites, examinava os vários planos, o Jaguar escolhia um, aperfeiçoava-o e dava instruções. O mês de reclusão forçada transcorria rapidamente, no meio de uma exaltação sem limites. À tensão do batizado e das ações do Círculo veio somar-se uma nova agitação: a primeira saída estava perto, já tinham começado a fazer para eles os uniformes azul-anil. Todos os dias, os oficiais davam uma hora de aulas sobre o comportamento de um cadete uniformizado na rua.

    — O uniforme — dizia Vallano, revolvendo com avidez os olhos nas órbitas — atrai as pombinhas como se fosse mel.

    “Nem foi tão grave quanto diziam, nem quanto me pareceu no momento, sem contar o que aconteceu quando Gamboa entrou na casa de banho depois do toque de recolher, nem se pode comparar esse mês aos outros domingos de detenção, não mesmo.” Nesses domingos, o terceiro ano era dono do colégio. Projetavam um filme ao meio-dia, e à tarde vinham as famílias: os cães passeavam pela pista de desfile, pelo descampado, pelo estádio e pelos pátios, rodeados de gente solícita. Uma semana antes da primeira saída, provaram os uniformes de lona: calças cor de anil e túnica preta, com botões dourados; quepe branco. O cabelo crescia lentamente sobre os crânios, bem como a vontade de ir para a rua. Na secção, depois das reuniões do Círculo, os cadetes contavam os seus planos para a primeira saída. “E como foi que soubeste, por puro acaso ou foi um denunciante, e se o Huarina estivesse de serviço, ou o tenente Cobos? Pois é, pelo menos não tão rápido, se ele não tivesse descoberto o Círculo, a secção não teria desabado, não tão depressa, estaríamos no bem-bom.” O Jaguar estava de pé e descrevia um cadete do quarto ano, um chefe de turma. Os outros escutavam de cócoras, como de costume; as baganas passavam de mão em mão. O fumo subia, chegava ao teto, descia até o chão e continuava circulando como um monstro translúcido e cambiante. “Mas o que foi que ele fez, Jaguar, também não precisamos carregar um morto nas costas”, dizia Vallano, “vingança, tudo bem, mas aí já é demais”, dizia Urioste, “o que fede nesta história é que ele pode acabar vesgo”, dizia Pallasta, “pediu, levou”, dizia o Jaguar, “se ele se magoar, melhor”, e o que veio primeiro, a pancada, o grito? O tenente Gamboa deve ter empurrado a porta com as duas mãos ou então abriu-a a pontapés; mas os cadetes foram surpreendidos não com o barulho da porta nem com o grito de Arróspide, mas pelo fumo estancado que fugia pela bocarra escura do alojamento, quase tomada pelo tenente Gamboa, que segurava a porta com as duas mãos. As baganas caíram no chão, em brasas. Estavam descalços e não se atreviam a apagá-las. Todos olhavam para a frente e exageravam a atitude marcial. Gamboa pisou nas pontas de cigarro. Em seguida, contou os cadetes.

    — Trinta e dois — disse. — A secção completa. Quem é o chefe de turma?

    Arróspide deu um passo adiante.

    — Explica esta brincadeira com todos os detalhes — disse Gamboa, tranquilamente. — Do começo. E não esqueças nada.

    Arróspide olhava de esguelha para os companheiros, e o tenente Gamboa esperava, quieto como uma árvore. “E o modo como chorava? E depois éramos todos seus filhos quando começamos a choramingar, e que vergonha, meu tenente, nem imagina como nos batizaram, homem não se defende?, e que vergonha, batiam, meu tenente, magoavam, insultavam a mãe, olhe o fundilho do Montesinos de tanto ângulo reto que apanhou, meu tenente, e ele não passava recibo, que vergonha, não dizia nada, que mais, factos concretos, sem comentários, falem um por um, não façam barulho, não incomodem as outras secções, e que vergonha para o regulamento, começou a recitar, devia expulsar toda a gente, mas o Exército é tolerante e compreende que os cães ainda ignoram a vida militar, o respeito ao superior e a camaradagem, e basta de brincadeira, sim, meu tenente, e como é a primeira e a última vez não vou dar parte, sim, meu tenente, vamos ver se ficam homenzinhos, sim, meu tenente, fiquem a saber que basta uma reincidência e só paro no Conselho de Oficiais, sim, meu tenente, e decorem o regulamento se quiserem sair no sábado que vem, e agora vão dormir, sentinelas a postos, relatório em cinco minutos, sim, meu tenente.”

    O Círculo não se voltou a reunir, embora mais tarde o Jaguar pusesse o mesmo nome ao seu grupo. Nesse primeiro sábado de junho, os cadetes da secção, espalhados ao longo da grade enferrujada, viram os cães das outras seções, soberbos e arrogantes como uma torrente, precipitando-se pela avenida Costanera, tingindo-a com os seus uniformes reluzentes, o branco imaculado dos quepes e as malas lustrosas de couro; viram-nos aglomerando-se na parada maltratada, o mar crepitante às costas, à espera do autocarro Miraflores-Callao, ou avançando pelo meio da pista até à avenida de las Palmeras, para apanhar a avenida Progreso (que corta os sítios e entra em Lima por Breña ou, na direção oposta, continua baixando em curva suave e amplíssima até chegar a Bellavista e Callao); viram-nos desaparecendo e, quando o asfalto ficou novamente solitário e humedecido pela neblina, continuavam com os narizes metidos no arame; em seguida, escutaram a corneta que chamava para o almoço e foram caminhando devagar e em silêncio para os seus lugares, distanciando-se do herói que havia contemplado com as pupilas cegas a explosão de júbilo dos ausentes e a angústia dos detidos, que desapareciam entre os prédios cor de chumbo.

    Nessa tarde, quando saíam do rancho diante do olhar lânguido da vicunha, surgiu a primeira luta na seção. “Eu deixava, o Vallano deixava, o Cava, o Arróspide? Não, ninguém deixava, só mesmo ele, o Jaguar não é Deus, se ele respondesse, aí era tudo diferente, se aguentasse a situação ou pegasse num pau, numa pedra, aí era tudo diferente, até se corresse dali, mas tremer, homem, isso não se faz.” Ainda estavam na escadaria, amontoados, e de repente começou uma confusão e dois caíram na relva, dando pontapés. Os dois levantaram-se; trinta pares de olhos contemplavam-nos dos degraus, como se estivessem num palanque. Não chegaram a intervir, nem compreenderam logo o que aconteceu, porque o Jaguar se lançou como um felino atacado e bateu bem na cara do outro, sem aviso, e caiu em cima dele e continuou batendo na cabeça, na cara, nas costas; os cadetes observavam os dois punhos constantes e nem escutavam os gritos do outro, “desculpa, Jaguar, empurrei sem querer, juro que foi sem querer”. “Só não devia ter-se ajoelhado, isso não. E juntar as mãos, parecia a minha mãe nas novenas, um ajudante de missa a receber a primeira comunhão, parecia que o Jaguar era o bispo e o outro estava a confessar-se, lembro-me muito bem”, dizia Rospigliosi, “e fico de pelo em pé, homem.” O Jaguar estava em pé, olhava com desprezo para o rapaz ajoelhado e ainda estava com a mão levantada, como se fosse bater de novo no rosto lívido do outro. Os demais nem se mexiam. “Tu dás-me nojo”, disse o Jaguar. “Não tens dignidade nem nada. És um escravo.”

quarta-feira, 16 de abril de 2025

Mãe Leitora do Jardim de Infância

    A mãe de duas crianças que frequentam o Jardim de Infância de Figueira deslocou-se à sala de aula para efetuar a leitura de dois livros.

 
    Não Abras Este Livro Senão é uma obra infantil muito divertida e intuitiva, da autoria de Andy Lee, pertencente a uma série de livros que conta já com oito títulos publicados em Portugal, cujo narrador - um monstrinho simpático e trapalhão - pede insitentemente ao leitor que não vire as páginas. Cada nova página é uma súplica: "Não abras", "Não continues", no entanto cada novo pedido só desperta ainda mais a curiosidade das crianças. À medida que o leitor desobedece, o narrador fica cada vez mais desesperado, gerando cenas hilariantes.

    Andy Lee é um escritor natural da Austrália, onde nasceu a 24 de maio de 1981. Além da escrita, tem-se dedicado também à representação, à música e à rádio. Em 2006, foi galardoado com o The Cleo Bachelor of the Year e, em 2013, foi nomeado para o Prémio Logie na categoria de celebridade mais popular da televisão.

    A outra obra lida intitula-se Bluey, Hoje é o Papá que Deita.

    Trata-se de um livro muito divertido e permite explorar novas brincadeiras para ocupar e distrair os mais pequenos. Baseado nos episódios de televisão, desta vez cabe ao pai deitar a Bingo e a Bluey. Só há um pequenino problema: a Bluey tem a certeza de que não vai conseguir adormecer sem um beijinho de boa-noite da Mãe, de quem vai ter imensas saudades. Nada, porém, que preocupe o Pai e a Bingo, que vão distrair a Bluey. Afinal, o Papá é que deita e é muito divertido!

segunda-feira, 14 de abril de 2025

A Cidade e os Cães

    A Cidade e os Cães é o romance, publicado em 1963, que revelou ao mundo o talento literário de Mario Vargas Llosa, sendo hoje considerado um clássico da literatura latino-americana.

    A ação decorre numa academia militar, em Lima, no Peru, cujos cadetes estão sujeitos a um violento código de conduta e cujo ensino tem como única finalidade anular a humanidade dos alunos e transformá-los em militares fiéis ao regime peruano. O protagonista é o próprio autor, enviado para lá, ainda muito jovem, pelo pai autoritário.

    Vindos de todos os pontos do Peru, a maioria de origem humilde, perseguidos por problemas familiares e inseguranças várias, os cadetes são obrigados a sobreviver num ambiente brutal e hostil, do qual a Justiça fugiu. Longe da vista e do conhecimento dos oficiais, os jovens entregam-se à bebida, ao jogo e aos conflitos entre si. Os mais velhos humilham os mais novos - a quem tratam cães - e criam um círculo de domínio, humilhação e crueldade.

    Esmagados por este contexto, alguns rapazes formam o Círculo, um grupo destinado a defender-se dos atos dos mais velhos, mas até nele irrompe a violência, acabando os seus membros por se tornar tão cruéis como os que pretendem combater.

In Memoriam: Mario Vargas Llosa

In Memoriam

1936 - 2025

    O escritor peruano Mario Vargas Llosa faceleu aos 89 anos em Lima, capital do Peru.

    Nascido a 28 de março de 1936, em Arequipa, foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 2010 pela sua obra, que o transformou num dos mais influentes escritores latino-americanos.

    Tendo iniciado a carreira literária com a obra Os Chefes, editada em 1959, publicou o último livro - Dedico-lhe o Meu Silêncio - em outubro de 2023, naquela que foi uma despedida formal da ficção.

    A sua despedida do mundo físico teve lugar ontem, 13 de abril.

sábado, 12 de abril de 2025

Leituras na biblioteca

Leitura

    Todas as turmas do 1.º ciclo participaram na concretização do projeto Escola a Ler, nomeadamente em atividades de leitura orientada realizadas na biblioteca escolar.

    Nas turmas do 1.º ano, foi lida e explorada a história “Corre, corre, cabacinha”; nas do 2.º, “O pinto borrachudo”; nas do 3.º, “O cortador de Pedra”; nas do 4.º ano, A água e a águia; e, por último, nas da Reigada, Vermiosa e Escalhão, O Sapo Apaixonado.

    Nas turmas do pré-escolar, o contemplado foi o livro O Grufalão.

Sorriso para a câmara

Trabalho no digital
    A exploração dos textos lidos foi efetuada através do recurso aos tablets disponíveis na escola, pois foram criados materiais digitais específicos para cada uma das obras abordadas.
    
    Todos os alunos participaram de forma empenhada nas diferentes atividades.


Leitura em Escalhão

Capa

    Desta vez, a leitura foi até Escalhão.

    Na sala, foi lido e explorado o livro requisitado na biblioteca escolar Numa noite muito escura, de M. Christina Butler e Jane Chapman, que aborda a temática do medo, nomeadamente o do escuro.

    Num bosque tranquilo, começa a cair a noite e, com ela, a escuridão traz um ambiente misterioso. O ouriço, protagonista da história, está com medo do escuro. Enquanto caminha pelo bosque, ouve sons estranhos e vê sombras assustadoras. A cada novo barulho, o ouriço imagina algo assustador a aproximar-se.

    No entanto, à medida que a história avança, o ouriço percebe que não está sozinho: os sons e sombras são, na verdade, os seus amigos animais — também assustados com a noite escura. Eles acabam por se reunir e, juntos, enfrentam os seus medos. No fim, percebem que a escuridão não é assim tão assustadora quando se está acompanhado de quem se gosta.

Trabalho

Clube de Leitura: chá com livros

  Chá com livros

Lendas do distrito
  No dia um de abril, reuniu o Clube de Leitura com os alunos que se inscreverem nesta atividade, que tem como objetivo promover hábitos de leitura. Desta vez, foi-lhes proposta a leitura de lendas locais presentes neste livro.

    Os alunos mostraram-se entusiasmados ao partilharem a leitura das lendas, manifestando a sua opinião sobre aquela que os tinha cativado mais. Para terminar a reunião, foram brindados com um pequeno miminho: chá, uns bolos e umas amêndoas.

Clube de Leitura

quinta-feira, 10 de abril de 2025

Concurso de Palavras Cruzadas

Palavras cruzadas

    Alunos das turmas B do 8.º ano e AB do 12.º participaram no Concurso de Palavras Cruzadas, uma iniciativa de professores bibliotecários de Douro, Tâmega e Sousa, e do cruciverbalista Paulo Freixinho, com o apoio da Rede de Bibliotecas Escolares (RBE).

    A atividade tem como objetivos (1) estimular a leitura e a escrita através da gamificação, (2) potenciar a precisão vocabular, (3) exercitar o cérebro e funções cognitivas importantes, (4) desenvolver competências de leitura e escrita multimodais e (5) fomentar a transdisciplinaridade e o conhecimento em geral.

Alunos em trabalho

    Ficaram apurados para participar, no dia 27 de maio, em Cinfães, na fase final do referido concurso, os alunos Íris Lourenço, do 8.º B, e José Nunes, do 12.º ano AB.

sábado, 5 de abril de 2025

Mãe Leitora

Exposição da obra

    Uma mãe de uma aluna do 1.º A deslocou-se à sala de aula para ler e intepretar o livro Amigas para Sempre, da coleção Princesas Poppy, da autora Janey Louise Jones.

    Quando a Poppy conhece a Angélica Melodia, simpatiza de imediato com ela. Para a impressionar, Poppy acaba por lhe mentir. Como se resolverá a situação? Será que ficaram amigas?

    Após a leitura do texto, os alunos elaboraram trabalhos de expressão plástica que deram vida a uma árvore da amizade.

Aluna ilustra texto

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Mãe leitora do 2.º A

2.º A

    Pais leitores formam filhos leitores.

    Crianças que são iniciadas na literatura no contexto familiar ainda em tenra idade costumam ser mais sociáveis e criativas, desenvolvem o seu vocabulário e a fluência oral eescrita e apresentam melhor rendimento académico.

    A iniciativa Pais Leitores tem em contta os princípios referidos e procura vir ao encontro desses objetivos e desenvolver a competência leitora nos alunos do nosso agrupamento.

    Nesta ocasião, uma mãe deslocou-se à sala da turma A do 2.º ano para ler e explorar o livro Não Tenhas Medo, Lobo Mau, da autoria de Clara Cunha.

    O Lobo Mau andava a vaguear pela floresta, quando avistou, ao longe, uma luz fraca. Cheio de curiosidade, foi-se aproximando gradualmente. De súbito, os seus olhos esbugalharam-se, a respiração ficou mais rápida, e o coração parecua querer saltar-lhe da boca.

    O que será que ele viu?

Camões no Carnaval

Semana do Livro Infantil

 Sala de Reigada

    Os alunos que frequentam a referida sala arregaçaram as mangas e comemoraram a Semana do Livro Infantil. Em primeiro lugar, foi feita a seleção dos livros a ler e explorar. A escolha recaiu sobre os seguintes:

Reigada

    Cada uma das crianças selecionou um livro. Despois de efetuarem a leitura do mesmo, elaboraram a respetiva ficha técnica e, por fim, apresentaram-no à turma, fazendo um breve resumo da história e exprimindo a sua opinião sobre ele.

    Todos alunos mostraram empenho na concretização da atividade e no final ficaram felizes com os trabalhos realizados.